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Sucessores Idênticos – A demonização da oposição islâmica nas próximas revoluções

Arzu Merali é um dos fundadores da Comissão dos Direitos Humanos Islâmicos. Ela é a co-autora do livro “A Mídia Britânica e a Representação Islâmica: A ideologia da demonização” (original em inglês).

Quarta-feira, 02 de Fevereiro de 2011

Arzu Merali discute que a sociedade civil precisa estar alerta para a demonização da Irmandade Muçulmana e do outro islâmico se pretende apoiar uma mudança séria.

E então começou. O pinga-pinga da demonização do outro egípcio. E ao final, ou no início, é tudo culpa de “Israel”. É uma triste indicação – na verdade é o criticismo categorizador do “Ocidente”, que seus líderes, comentadores, mídia e considerável parte do quinto estado (da tão-conhecida voz proletária através dos ativistas das ONGs) falam de um destino ainda pior do que o atual presente com Mubarak.

John Humphreys, apresentador da Radio 4 da BBC, chama atenção para o noticiário Today (de 31 de Janeiro), quando colocou um dilema de uma suposta referencia à filosofia de Franklin D. Roosevelt vis-à-vis com outros ditadores do passado: “Ele pode ser um filho da mãe, mas é o nosso filho da mãe”. A alternativa, aqui colocada, é que no vácuo criado pela atual revolução, “extremismo” poderá ter acesso ao poder. Vamos com calma.

Nós sabemos com certeza que todas as referências ao extremismo são uma pobre metáfora para “islâmico” ou simplesmente “muçulmano”. Outros foram menos discretos – Tony Blair deixou claro que ele teme o crescimento da Irmandade Muçulmana. As respostas dos EUA, Grã Bretanha e da Europa à situação no Egito são, no máximo, amenas, com lideres como Merkel e Cameron, e seus fantoches, como Clinton, acertados em salientar que eles dialogaram com Mubarak e que pediram que ele considerasse alguma reforma. Se ele é um ditador velho e delirante, que desculpa esses iluminados do mundo ocidental tem para ignorar os fatos in loco que o povo egípcio está determinado sobre uma única coisa que é a saída de Mubarak? Com certeza, não há desculpas, e é isso que soa errado.

Os comentários de Bliar Blair a quase uma semana atrás podem não ser os habituais reclames islamofóbicos deste famoso destruidor de nações. O Quarteto, dos quais ele supostamente representa não tem se distanciado das idéias que ele conclama. Ainda existe suporte para Mubarak ou a um sucessor (militar ou não) do mesmo calibre? Talvez a reportagem da Reuters sobre os últimos comentários de Benjamim Nethanyahu iluminarão a origem desta linha de pensamento.

Nethanyahu é responsável pelas seguintes palavras, de acordo com a reportagem: “Em uma situação de caos, um corpo islâmico organizado pode tomar controle do país. Foi o que aconteceu no Irã. Aconteceram outras vezes”.  A observação da Reuters é um clareamento da problemática do discurso inteiro – que a preocupação do que pode acontecer, o que provavelmente acontecerá, ao tomar uma natureza islâmica: “Nethanyahu pediu que o seu gabinete se contivesse  em comentar nos levantes no Egito, já que Israel observava para ver até que ponto Mubarak sobreviveria ao um levante democrático, como o atual, tomasse o poder”.

Um governo democrático com ideais democráticos. Isso seria o ideal. Para clarear a mente (até o momento, como qualquer observador pode em relação as suas ações no poder) de Mubarak, podemos simplificar em:

Ele continua um acordo de paz com Israel – Ele reforçou apaixonadamente um bloqueio ao povo palestino em Gaza. Seus serviços de segurança tornaram o Egito em uma das sociedades mais vigiadas do mundo. Os mesmos serviços de segurança sob seus auspícios torturou oponentes políticos e na mesma linha dos mais cruéis ditadores à la Saddam Hussein e Augusto Pinochet, “desaparecendo” com alguns deles.

E depois disso tudo, vem a devastação econômica.

Assim como líderes mundiais e regimes vis e violentos vem e vão, nenhum pode ser tão ruim quanto Mubarak. Os poucos que competem com ele – Ali Abdullah Saleh no Iêmem, o líder deposto da Tunísia, Ben Ali, as autoridades sauditas, que são uma liga de semelhantes. Os governos revolucionários no Irã, Venezuela, Cuba, com todas as suas falhas, não chegam perto – a não ser que você acredite na moda.

E a moda está enchendo todo mundo. Até mesmo o (até então) excelente Democracy Now! lançou uma linha na qual a Irmandade Muçulmana é irrelevante para as atuais demonstrações – que os cânticos de “Allaho Akbar” são sufocadas pelos gritos de “Muçulmanos,/ Cristãos,/ Somos todos egípcios!”, como se os dois fossem conflitantes, como se a Irmandade Islâmica representasse exclusividade e machismo, e não o movimento social dinâmico e político com a sua própria relevância, não necessariamente pelo clamor aos protestos mas pelas vidas das pessoas envolvidas. Como um movimento social, demonstraram e tem demonstrado que tem servido as massas conforme eles têm declarado. Pela aspiração do povo, como um movimento político, eles tem sido a representação em todas as “eleições” anteriores e foram pesadamente punidos pelas autoridades simplesmente por tentarem alguma coisa. Compartilhando de suas idéias ou não, a Irmandade Islâmica tem um claro pedigree social e político.

O mantra repetido que a Irmandade Islâmica são organizados (como se bastasse este fator para ser uma coisa ruim), é algo que se costuma ouvir – uma justificação preventiva que numa eventualidade qualquer que poderá envolver Mubarak e a Irmandade a um maior ou menor extensão. A idéia que eles talvez tenham alguma legítima representatividade, a idéia que um movimento social e político com uma história radical (no melhor sentido da palavra), os faz líderes naturais da boa mudança radical e é ignorada por aqueles quem deveriam reconhecer melhor os ativistas radicais. Muitas das aversões que infelizmente surgiram derivam da presença da palavra “muçulmano” no nome, que a palavra “Islã” é só uma maquiagem ideológica. Essas aversões não são fundamentadas em questões reais – uma crítica real é algo que a Irmandade Muçulmana no Egito em seu próprio crédito, tem sempre aceitado e encorajado. Essas aversões são baseadas em representações fóbicas dos mulçumanos e, em particular, no ativismo muçulmano e nas aspirações políticas e sociais baseados em qualquer quantidade, caminho, forma ou conteúdo no Islã. Ao invés de ver as conquistas positivas de tais movimentos sociais e políticos, incluindo a emancipação das mulheres e a concretização de políticas e idéias que desenvolvem e respeitam os direitos das minorias, nós ouvimos os gritos assustados contra a “louca brigada da Shariah”, que corta mãos e aprisiona e apedreja as mulheres.

Esta onda entre o Quinto Estado não é prevalente, mas dá força aos poderes que se mantêm, que deliberadamente subestimam ou demonizam a Irmandade, enquanto tentam controlar a atual Era Pós-Mubarak. Em tempo, enquanto Nethanyahu é demonstrado como conhecedor daquela região, o sucessor de Mubarak deve ser um mantenedor. Ser um mantenedor significa ter um Mubarak com outro nome, ou em outras palavras, nenhuma mudança constitucional séria, nenhuma mudança séria na política econômica, nas questões com Israel, nenhuma mudança real que permita ao Islã ou qualquer outra nova ou testada força nenhum tipo de mudança. Se esta situação de manutenção for fundamentada pelos EUA e seus aliados, não será nenhuma surpresa para aqueles que se comprometem com a luta pela justiça no mundo todo de qualquer tipo de movimento. Ao demonstrar com retórica similar, que acaba por demonizar as forças revolucionárias nesses dias especiais, a sociedade civil está permitindo infelizmente a idéia de uma sucessão “de manutenção” ao invés de uma mudança real, incluindo um governo representativo, como o resultado destes protestos. Esta é uma ofensa a ambos os mortos e àqueles que desafiam Mubarak e seus irmãos regionais sob a ameaça de morte, se nós permitimos que esta noção ilegítima que estamos tentando parar os islâmicos em terem o controle da situação.

 

 

Traduzido por Luciano Dalcol-Viana.